O motor da economia alemã está gripado e pode não recuperar tão cedo.
A produção industrial caiu em julho, sinalizando que a economia pode entrar em recessão no terceiro trimestre. Parte dos problemas são estruturais e crise industrial pode ter vindo para ficar. Com a crise da indústria, sobretudo do setor automóvel, a agravar-se na Alemanha, a maior economia europeia pode entrar em recessão já neste trimestre. Os analistas esperam, na melhor das hipóteses, uma estagnação no conjunto do ano. Mas o problema é em parte estrutural.
Na semana passada, o Destatis, gabinete de estatísticas alemão, divulgou que a produção industrial caiu 2,4% em julho face ao mês anterior, muito mais do que era esperado. A queda deixou a produção industrial 2,2% abaixo do seu nível médio e 9,5% abaixo do seu pico mais recente (de fevereiro de 2023). A queda foi generalizada, mas particularmente acentuadanos dois principais setores da indústria alemã a produção automóvel e de equipamento elétrico, que diminuíram 8,1% e 7%, respetivamente.
Segundo as contas de um estudo da Bloomberg Economics divulgado em julho, a indústria alemã não vai ser capaz de recuperar totalmente o que perdeu nos últimos anos. Metade das perdas são cíclicas, mas o resto é estrutural e veio para ficar. A invasão da Ucrânia pela Rússia no início de 2022, que fez disparar os preços da energia, e a intensa concorrência dos produtores de automóveis chineses, por vezes apoiados por subsídios governamentais, atingiram fortemente o setor.
Aliás, um relatório recente do Banco Central Europeu (BCE) estimava que, entre 2019 e 2023, o custo de fazer um carro na Europa aumentou 7,5% face a uma alternativa "made in China", o que resultou numa queda de 15% na quota de mercado global dos construtores europeus.
O exemplo mais recente da crise no setor automóvel alemão vem da Volkswagen. No início de setembro, a gigante alemã admitiu estar a estudar o encerramento de fábricas na Alemanha pela primeira vez em 87 anos. E o diretor-executivo do grupo, Oliver Blume, justificava a decisão com o facto de o país "estar a perder cada vez mais terreno em termos de competitividade".
E dificuldades nas fábricas alemãs significam problemas para a economia como um todo. A indústria é muito mais importante para a Alemanha do que para muitos dos seus pares: representa quase duas vezes mais da atividade total do que avizinha França ou mesmo do que dos Estados Unidos.
É neste contexto que o instituto Kiel estima que a economia alemã recue novamente este ano, em 0,1%, depois de ter contraído 0,3% em 2023. Nas previsões de outono, reviram também em baixa as estimativas para os próximos anos (que admitem ser de baixo crescimento). "A economia alemã está a enfrentar uma crise que não é só cíclica, mas também estrutural", afirma Moritz Schularick, presidente do Kiel. "Os cortes orçamentais do governo são um fardo adicional e a redução das taxas de juro do BCE já vem tarde para a Alemanha".
Fontes: Jornal de Noticias, AICEP